Estavam todos na sala de reuniões. Esta já era a terceira apresentação em duas semanas. Marcelo passava os slides enquanto Vanessa, sua cliente, assistia impassível. Desde que a conhecera ele sabia que este seria um cliente difícil. Vanessa lhe pareceu grossa e mal-humorada. Sua intuição lhe dizia que, apesar de importante para a agência, este cliente traria mais dor-de-cabeça do que lucro. Terminada a apresentação, ela decretou:
- Patético - disse enfática.
Marcelo passara dias e noites inteiras dentro da agência na tentativa de melhorar as peças apresentadas anteriormente, todas recusadas. O trabalho de um mês, todo perdido. Em todas as reuniões e enquanto fazia suas apresentações ele olhava fixamente para Vanessa, na esperança de que ela esboçasse alguma reação. Nada. A única interação foi a fatídica palavra ao fim da apresentação: "patético". A resposta reverberou em sua mente durante toda a tarde. Desde que fora contratado como estagiário ele sempre tinha as melhores idéias. Todos o consideravam brilhante, o garoto prodígio. Mas esta campanha havia saído ao seu controle. Não havia mais para onde evoluir. As idéias ficaram escassas. Agradar a este cliente estava se tornando uma questão pessoal, de honra.
Quando saiu da agência, pouco depois de anoitecer, Marcelo foi direto para o bar. Sentia calor. Pediu um chopp e afrouxou o nó da gravata. Pensava na reunião, nas noites sem dormir. O chopp estava no ponto, geladíssimo. Tão logo terminava um já pedia outro.
Sentiu vontade de ir ao banheiro. Quando levantou da mesa o celular tocou. Era Guilherme, seu chefe. Marcelo já sabia do que se tratava. Estava despedido.
Este fora um dia ruim, um dia que marcaria a sua vida para sempre. Mas agora, sem emprego, sabia que não esqueceria este episódio tão cedo. Não sentia mais vontade de beber, o chopp não descia. Saiu do bar, entrou no carro e saiu dirigindo, completamente embriagado.
Dirigiu por mais de uma hora e, quando percebeu, estava no bairro de Vanessa.
Marcelo queria se vingar mas sabia que não poderia sequer chegar perto da entrada da casa dela, sempre vigiada. Ele estacionou o carro em uma rua próxima para se recompor. Alguns minutos depois desceu do carro, colocou o paletó e ajeitou o nó da gravata. Fez o possível para disfarçar a embriaguês.
Ao contrário do que pensava, não havia vigias e nem seguranças. A própria Vanessa atendeu ao interfone. Tão logo Marcelo se identificou ela abriu a porta, sem pedir explicações. Assim que passou da porta Marcelo sentiu um nó no estômago. Relembrou de todo o esforço, não só o seu mas também o de toda a equipe.
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