letras manchadas de sangue,


                                frases esquartejadas,


                                                        espalhadas pelo chão




quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A Vingança - Parte 2 de 3

A situação agora se complicava. Com o coração à mil, Gustavo se levantou e tentou tirar a arma da mão de Andréia. Ela se recusava a entregar.

- Cara! Você é louco? Não vou te dar meu revolver - disse empurrando Gustavo de volta ao sofá.

- Andréia, que absurdo! Guarde essa arma e vamos conversar. Você sabe que pode confiar em mim. Eu sou seu amigo.

- Amigo é a puta que te pariu! Você é um corno sem-vergonha, um babaca chifrudo!

- Andréia, me dá essa arma. Anda logo! - tentou Gustavo.

- Vem pegar, corno! - gritou Andréia - Corno! Chifrudo!

- Chifrudo por quê, sua maluca? A chifruda aqui é você! - respondeu com raiva.

Andréia arqueou o corpo em uma gargalhada incontrolável. A arma caiu no chão. Gustavo pegou a arma depressa e guardou no bolso da calça, antes que Andréia a alcançasse.

- Caralho, Andréia! O que você tem na cabeça? Que susto da porra!

- Cara, você é mesmo muito cuzão! - disse ela enquanto se levantava - Acha mesmo que eu sou alterada? Acha? - foi em direção à porta. - Pimenta nos olhos dos outros é refresco, seu cornão!

Andréia abriu a porta. O ar gelado e úmido da noite entrou na sala.

- Agora me diz, ô certinho. Me diga onde está sua querida esposa, a sua queridinha? - perguntou sorrindo - A Regininha, filhadaputinha, onde está? Onde está a sacaninha, a vagabunda? Como você diz? Pituchinha!

Gustavo nunca havia visto Andréia naquele estado. Não entendia o motivo para ela insultar sua esposa. Mas sua cabeça começava a trabalhar, lembrando os acontecimentos do dia, da viagem. Regina estava emburrada, nem queri vir. Ele sentia rancor e raiva no que Andréia dizia. E o que era mais aterrador: ela parecia ter certeza do que dizia. Começou entender o que Andréia queria dizer. Caminhou até a soleira da porta, o vento gelado batendo em sua face e entrando por entre os botões da camisa. Alguns instantes depois, enquanto os olhos se adaptavam à escuridão, conseguiu ver os contornos na escuridão do lado de fora. Deu mais um passo à frente.

Imaginou onde estaria Regina, se ainda dormindo na cama de onde ele saiu, ou na cozinha, talvez no sotão. Não. Ele sabia. Regina não estava na casa. Mais um passo à frente e as coisas começavam a se encaixar. A irritação de Regina, o nervosismo de Andréia.

A realidade era pior do que ele podia imaginar. Não era uma simples desconfiança. Tudo acontecia ali, bem na sua frente, dentro do carro de Hélio. Não havia dúvidas. Deu mais um passo à frente e percebeu os vidros embaçados, o movimento. Não conseguia ver os detalhes no interior do carro. E de dentro também não se via o lado de fora. Mas Gustavo não precisava ver para saber o que estava acontecendo. Mais um passo e pôde ouvir os murmúrios. Inconfundíveis: estavam fazendo sexo. Os movimentos eram ritmados e amplos. Uma trepada vigorosa. Os gemidos, ele conseguia ouvir, eram de Regina. Há muito não a ouvia gemer assim. O seu êxtase fazia-se sentir do lado de fora do carro.

Gustavo olhou para trás e viu Andréia, tão atordoada quanto ele. Tentava buscar uma explicação. Percebeu que chorava, de ira, de repulsa, de desgosto. Não queria chegar mais perto, não queria mais ver. Deu um passo atrás e caminhou para perto de Andréia. Imaginava se não estava no meio de um pesadelo. Realmente estava. Um pesadelo terrível. E real. Sentia-se como um garotinho no quarto escuro, frente a frente com o bicho-papão. Estava sem ação.

Ouviu o barulho da porta do carro se abrindo. Ouviu Hélio recomendar para que Regina não fizesse barulho. Primeiro saiu ela, de camisola. Fechou a porta e esperou que Hélio saísse do carro. Os dois, sorridentes. Não sabiam que haviam sido flagrados, das testemunhas silenciosas da traição. Quando se voltaram em direção à casa é que finalmente viram Gustavo e Andréia prostrados em frente à varanda.

Regina olhou nos olhos de Gustavo, pálido, o suor escorrendo pela face mesmo na noite fria. Viu ele tirar do bolso a arma e apontar em direção a ela. Um só tiro, bem no meio do peito. Quando viu o disparo, Hélio ainda tentou voltar para o carro. Não teve tempo. Gustavo se aproximou e mirou outra vez o peito, outro tiro certeiro.

- Quero ver você comer a mulher dos outros agora, seu porra!


* * *


- O que faremos agora? - perguntou Andréia, confusa.

- Não faço a menor idéia. Nunca matei ninguém antes.

Estava sendo sincero. Realmente não tinha a menor idéia do que faria. Pensara em ligar para a polícia, em confessar e se entregar.

Clique aqui para ler a parte 3 de 3.

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