Voltou no outro dia de manhã entrando correndo pela casa.
– Bom dia, tia.
– Bom dia, meu filho. Mas que pressa é essa? Vai tirar o pai da forca?
– Tia, tenho que lhe contar uma coisa, mas nem sei por onde começar. – disse fazendo uma careta.
– Comece pelo começo, filho. Sente-se. – disse, puxando uma cadeira.
– Tia, fui ver a casa da Dom Pinheiro.
– Ah é? E é grande mesmo?
– É enorme, tia. É uma mansão! Acho que nunca vi uma casa tão bonita em toda a minha vida.
– Mas que bom! – disse sorrindo – Então vai ser fácil de alugar.
– É aí é que está. Ela já está ocupada.
– Ocupada? – estranhou a tia – Mas o Bartolomeu nunca me falou nada disso.
– Bem, as outras não estão alugadas mesmo, mas esta está.
– Mas que bom! Não teremos que nos preocupar então. E você conheceu quem está morando lá? Eles têm contrato, tudo certinho? – disse a tia com um sorriso.
– Tia, nem sei como dizer isto... – respirou fundo e tomou coragem, falou devagar: – A casa é uma casa de tolerância. – disse baixando a voz.
– Casa de tolerância? Como assim? – indignou-se a tia.
– É uma... – baixando ainda mais a voz – É uma casa de tolerância, tia. Um bordel.
– Um bordel? Na minha casa? Mas que absurdo! Você tem certeza do que está falando?
– Se tenho! Inventei uma história e consegui entrar para dar uma espiada, coisa de luxo. Tudo de primeira, as cortinas, o carpete, os vitrais. Tudo lindo!
Dona Rita parou um momento e ficou fitando a mesa.
– Mas não é possível... Seu tio nunca me deu uma dor de cabeça quando era vivo, agora depois de morto é que vai aprontar. Mande tirar essas putas de lá. Como é que o seu tio não sabia que nossa casa foi transformada num puteiro? O que dirá essa gente da cidade?
– Tia, esse é o problema. O tio Bartolomeu sabia. Falei até com a mulher que toma conta do lugar, uma tal de Sofia.
Ao ouvir a última frase do sobrinho, Dona Rita foi ao chão. Nem com água fria no rosto acordou. Levaram-na para o quarto e a colocaram deitada na cama.
Desceram, ainda se recuperando do susto. Conceição fez um café.
– Eu sempre desconfiei do Seu Bartolomeu - disse a mulata enquanto enchia duas xícaras.
– Pois eu nem em sonhos desconfiaria de uma história dessas, lhe garanto.
– Seu Bartolomeu vivia viajando, dormia fora muitas vezes. Era um homem muito bondoso, mas quando a esmola é demais... Nunca falei nada porque gosto deste emprego.
– Ah, Conceição! Você pode até dizer que desconfiava que meu tio pulava a cerca, mas isso o que tem acontecido é demais.
Quando o relógio bateu as oito da noite Davi se despediu de Conceição.
– Espere! Você vai me dar uma carona - disse a viúva, descendo as escadas.
Ela usava um vestido preto, o mesmo que usara no último baile. O cabelo bem esticado e amarrado para trás.
– Tia? Aonde a senhora vai? – perguntou intrigado.
– Vamos embora. Sem perguntas.
Entraram no carro e o sobrinho quis saber para onde iriam.
– Para a mansão da Dom Pinheiro, quero olhar esse lugar com meus próprios olhos.
– Mas tia...
– Cale a boca e dirija – cortou a tia.
Ao parar o carro, Dona Rita esperou que o sobrinho lhe abrisse a porta.
– Tia, a senhora tem certe...
– Absoluta! – interrompeu-o de novo a tia.
Na porta, um segurança de terno e gravata barrou a entrada, intransigente.
– Não permitimos senhoras na casa. É só para homens, madame.
– Eu quero falar com a Sofia. – disse firmemente.
– Da parte de quem? – estranhou o segurança.
Dona Rita não titubeou. Tirou da bolsa um pequeno espelho, conferiu a maquiagem e o vestido. E, revelando a sí mesma como seriam seus dias deste momento em diante, altiva, falou enquanto entrava pelo portão:
– Pode dizer que é a patroa.
1 comentários:
Ivo,
Continue. Gostei muito. Minhas observações não são protocolares.
Abraços.
Paulo
Obs: o Roberto foi que me indicou seu endereço eletrônico.
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